Este era um camaleão que não sabia mudar de cor. Ao ver que os outros camaleões conseguiam, ficava verde de inveja. Às vezes gozavam com ele, e ele ficava vermelho de raiva. Chegou mesmo a cair doente, e ficou amarelo. Delirava de febre, e julgou ver um fantasma, e teve tanto medo que ficou branco. O pobre camaleão via-se negro. Para o consolar, a mãe preparou-lhe um bolo enorme, e ele comeu tanto que se engasgou até ficar roxo.
Este
era um Veado que perdeu um chifre numa
luta. No lugar dele colocou um cabide, fixando-o com fita adesiva. Passado
algum tempo, um lenhador encontrou o chifre na floresta. Levou-o para casa e
usou-o como cabide.
Este
era um cão que encontrou um osso.
“Vou guardá-lo para outro dia”, pensou. E foi enterra-lo. Passado algum tempo,
voltou ao lugar onde tinha enterrado o osso e viu que, precisamente naquele
sítio, tinha nascido uma árvore que estava carregadinha de ossos.
Este
era um cavalo que ia a caminhar
pela praia, com as ondas a cobrir-lhe os cascos. De repente o cavalo parou,
baixou a cabeça e olhou fixamente para a água. Lá dentro estava um
cavalo-marinho. Ambos ficaram frente a frente. O cavalo pensou: “Na água do mar
vemo-nos mais pequenos do que na água do rio.”
Este
era um hamster que dormia num
canto da sua gaiola. Quando acordou, disse para com os seus botões:” Vou dar um
passeio para esticar as patas”. Foi até à roda e começou a andar, e a roda
girava e girava. Passado um bocado, o hamster disse para com os seus botões:
“Já andei um pedaço. É hora de regressar ao meu canto”. Então deu meia volta e
pôs-se a andar na roda, que agora girava em sentido contrário.
Esta era uma rã
que uma bela manhã saiu do seu charco em busca de comida. Decidiu regressar ao
charco passadas umas duas horas, mas não deu com ele. Tinha-se perdido e chorou
desconsoladamente, e derramou lágrimas e mais lágrimas.
Derramou tantas lágrimas que estas formaram um charco, e
a rã pôs-se a nadar nele, toda contente. Estava tão contente que chorou de
felicidade, e derramou lágrimas e mais lágrimas que tornaram o charco maior, e
a rã ficou ainda mais feliz.
Este era um rinoceronte que disse para com os seus botões:” Vou ali àquela montanha ver se encontro alguma coisa para comer”. O rinoceronte começou a andar e andou, andou, andou…E o caso é que nunca chegou à montanha, porque o rinoceronte era muito míope, tal como todos os rinocerontes, e não se apercebeu de que o que ele via não era uma montanha, mas sim o corno que os rinocerontes têm no cimo do focinho.
Baseado na ideia original da docente Paula Alexandra Almeida: "Bichos e Bichecos".
Textos do livro de Pinto & Chino "MINIMALÁRIO" da Kalandraca